Maternidade é se redescobrir, desenhar um novo livro da vida.
Yoga é viver esse novo livro com lucidez.
PAZ e LUZ!
Vivi

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

O parto


No momento do seu nascimento - um parto natural, hospitalar, com apoio de uma enfermeira obstétrica - Vilma Nishi, de um obstetra - Dr. Antônio Júlio, de um pediatra – Cacá, de um marido – Daniel e de uma fotógrafa - Letícia Momesso. O trabalho de parto caminhou tranquilo, as contrações ritmaram por volta das 14h e o pequeno nasceu próximo das 20:30h, sendo que a dilatação total aconteceu cerca de 19h. Não fiz uso de anestesia, nem de episiotomia, permiti ao corpo que fizesse seu trabalho, algo que é natural e possível a todas as mulheres. A dor existe, mas também existe PAZ e contentamento.

O parto é um momento único, uma porta que se abre para inúmeras descobertas sobre si, a começar que a mulher está prestes a nascer como mãe. Esse momento não poderia ser menos intenso, pois é uma ruptura, onde somos capazes de perceber nossa força, nossa garra, nosso amor. Tamanha intensidade pode assustar as mulheres modernas, mas em minha experiência foi fundamental para me sentir forte e firme para cuidar de meu filho, principalmente nos seus primeiros dias - momento delicado chamado de puerpério, que abordarei mais cuidadosamente em outro texto.

A abertura proporcionada pelo parto, que não seria apenas física, mas também emocional, nos deixa vulneráveis, não temos como nos agarrar em nossos medos, algo mais forte nos puxa de nossas conchas e nos trás a realidade, afinal, um filho está nascendo - faça força, respire, relaxe... - e quando simplesmente achamos que não iremos dar conta, nos entregamos, soltamos as rédeas e nesse exato momento ele nasce. Percebemos que não somos o que achávamos ser, que existe algo mais, alguém capaz de parir, de ir além de si mesma. E ao pegar o filho nos braços, sentir aquele cheiro, olhar os seus olhos e perceber o Amor, vemos que valeu a pena. Nesse momento minhas pernas ainda estavam tremulas, e lembro de beijá-lo muito, e abençoá-lo. Eu estava bem dolorida, mas meus olhos brilhavam, eu estava linda (pude ver nas fotos), uma beleza real, um brilho espiritual, do milagre da vida. Não acreditava que tinha sido capaz, e negava um pouco dentro de mim o ocorrido, tamanha a força do acontecimento, mas ele estava ali em meus braços e isso era real. Confesso que naquele momento dizia para mim mesma que nunca mais passaria por outro parto, mas no dia seguinte já sabia que faria tudo novamente.

O meu marido estava ao meu lado, me acariciou o cabelo e o rosto durante os momentos finais, me encorajando. Sei que sua visão sobre mim também mudou, e ele faz questão de comentar com todos que tive um parto assim, NATURAL; algo que não tem a ver com ser primitivo, ou alternativo demais, mas sim de estar em busca de conexão com o Divino em todas os momentos, e confiar. Fluir pela vida com mais carinho e brilho nos olhos. Ir além dos medos e inseguranças e acreditar na força que nos gerou e que mantem o sol nascendo, o rio correndo, o coração pulsando.


Paz e Luz!

Vivi


Trabalho de parto é movimento




Tudo no Universo está em movimento, a vida se movimenta constantemente; em nós um bom volume de sangue percorre nossas veias sem cesar, assim como a respiração pulsa o ar a todo momento. O parir não poderia ser diferente.

Trabalho de parto é movimento, uma reconexão consigo, com a força contida em nosso quadris, uma força que cria espaço para o novo surgir, para o bebê nascer, para a vida fluir.

Para que a abertura aconteça, percebi através de minha experiência, que o movimento corporal é fundamental, um movimento que traga relaxamento, soltura. Não há regras em relação a isso, o melhor é o que a mulher deixa acontecer. Fechar os olhos e se entregar, como uma dança, um rebolado, um agachamento, tudo vale nesse encontro consigo. E de fato não importa o local.

Vivenciei mais de uma hora de contrações na recepção da maternidade, pois estava esperando para fazer um exame, que diria se estava na hora de ficar para dar a Luz. Na recepção mesmo me entreguei aos movimentos que sentia vontade de fazer. Rebolei, agachei, andei, fiz tudo que de alguma forma me aliviava, enquanto as contrações “pegavam” com força. Não conseguia ficar sentada nem um minuto, era uma tortura para mim ficar parada quando as contrações vinham. Acredito que essa forma de agir me ajudou muito, pois meu trabalho de parto foi rápido* e consegui me manter tranquila e serena durante a evolução das dilatações.

Andava e dizia pra mim mesma, relaxa, se solta. Respirava fundo e soltava os ombros, a cabeça. Bebi muita água e também vi a lojinha para bebês da maternidade. Fui para o portão de entrada e observei as árvores, as pessoas que passavam, as mães que saiam com seus pequenos nos braços. E aproveitava o intervalo entre as contrações para pedir a Gaya, Mãe Terra, muita força e conexão para viver esse lindo e desafiante momento.

Quando tive a oportunidade também me lembrei de minha avó, que deu a Luz a 9 filhos, todos de forma natural e ganhei força ao lembrar que agora era a minha vez de dar continuidade a família, a força estava comigo, o momento era meu. Eu era o papel principal, e tinha tudo que precisava para que a peça ocorresse lindamente.

É interessante que a mente sempre tão agitada não encontrou lugar para devaneios, permaneci mais no presente, no “aqui e agora” durante todo o trabalho de parto, que se iniciou quando as contrações entraram em ritmo, mantendo sempre um mesmo padrão de duração e intervalo, um mesmo movimento.



*Meu trabalho de parto durou aproximadamente 6:30h, sendo que em 5 horas já estava com dilatação total. É considerado um parto rápido, uma vez que há vários casos de trabalho de parto de 12h ou até 24h.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

SE PERMITIR


Nesse momento que estou vivendo, reta final para a chegada do Ravi - para a maternidade de fato, que chegará quer eu queira, ou esteja preparada, ou não, é INEVITÁVEL, o nascimento vai acontecer- muitas coisas têm surgido. Pulsos adormecidos emergindo, na verdade pude ver, levemente, um lado que eu sempre preferi não olhar: uma criança chorona, que está gritando querendo carinho, atenção, um pouco de colo. Esse grito tem aparecido hoje e vem aparecendo de diversas formas, como uma certa carência que projeta no outro expectativa, não permitindo o surgir do amor. Um dar querendo receber! Uma ausência!
Pulsos que tem suas raizes bem fundas na ausência de conexão com o divino e que se fortaleceram ao longo da minha vida infantil, e que hoje posso olhar com outra forma, perceber que tudo pode ser modificado, que é necessário mover, movimentar tais questões, com um olhar sincero para si e muito carinho, muito carinho para o lado feio, para essas carências que não são gostosinhas de ver, mas que mostram o que temos que ver. São as barreiras criadas por nós mesmos ao Divino.

Tenho buscado viver cada momento, focar na presença de cada segundo, não estar no futuro, esperando. Nesse momento em que algo está para acontecer, algo que me tirou da rotina habitual, me trouxe para uma esfera do não programado, me permitiu sentir o inesperado, tenho tido a oportunidade de viver simplesmente, sentir, sem ter que cumprir horários, ou ter que ser alguma máscara que não quero, estou tendo a oportunidade de ser muito mais verdadeira comigo, e ver um pouco melhor quem sou, sem a carência de ver quem gostaria que eu fosse.
Permitir sentir medo, negação, chorar e ver que tudo também pode ter um lugar carinhoso no meu coração. Viver é se expor, não só com carinha de que está tudo bem, mas com o pacote completo das minhas crenças e carências, e vendo o que se encaixa melhor em cada momento, dançando e tentando fazer sempre diferente, SE PERMITINDO a vida.
O controle me puxa para a ansiedade, mas não há o que controlar, ele é a razão do sofrimento, não permiti a entrega, o surgir do inesperado. O controle mata a vida, pois impõe regras, formas, moldes para que as coisas aconteçam, que são belas por serem livres e soltas. A Luz não pode ser encaixotada, formatada, mas está livre, solta, fluindo; que as rédeas sejam afrouxadas nessa carruagem e deixemos o cocheiro nos levar ao ponto inevitável.

Percebo um paralelo entre o fluir para o parto, para a morte e para o Divino, são inevitáveis e de uma forma ou de outra irão acontecer, posso escolher viver plenamente cada instante e recheá-los de presença e carinho, ou posso projetar expectativas em relação a eles. Posso dançar e ouvir uma boa música, rir e deixar a chama da felicidade invadir meu ser, ou posso comer e roer minhas unhas tentando imaginar como vai ser!

hihihi acho que estou louca de alegria de poder viver. Que bom é poder deixar tudo isso acontecer :)


*Meu filho nasceu no dia seguinte que eu escrevi esse texto, eu estava com 40 semana e 4 dias de gestação; foi um parto natural, hospitalar e tranquilo (na medida do possível).*

PAZ! Vivi