No final do quinto mês comecei a dar
pequenos pedacinhos de banana e até ousei um dia e dei de tamarindo.
Nesse mesmo período passei meu dedinho em sua boca com sucos
variados, para ver sua reação, mas ainda não tinha oferecido nada
pra valer. Me doía lá no fundinho essa mudança, curti muito dar o
peito e pensar em parar ou mesmo diminuir as mamadas era uma tortura
para mim. Foram 6 meses de muita entrega, troca de olhares, carinho
sincero, amor intensificados pelas mamadas, e tudo deu muito certo,
mas é chegada a hora de mostrar, como
diria o Cacá - “as cores do mundo” para o Ravi, e poderia fazer
de uma forma harmônica, divertida e profunda.
Harmônica no sentido
de estar em perfeita sintonia com a maternidade e portanto com a
fonte planetária de carinho e ritmo.
Divertida através de uma
gostosa brincadeira, não vejo a necessidade do adulto ser sério, ao contrário, tenho a imagem de pessoas sábias muito engraçadas,
que se divertem e principalmente riem como crianças. Por que não se
pode brincar com a comida, é muito mais gostoso do que comer
pensando no trabalho ou qualquer outra coisa, ao menos se está
concentrado no que se está fazendo?
Profunda, trazendo à tona a
percepção de que se alimentar não é apenas ingerir um alimento,
mas nos alimentamos da vida, do ar que respiramos, das conversas que
temos, dos livros que lemos, de todas as atividades que executamos,
nos alimentamos do nosso silêncio, que por vezes nos mostra que
intenso ruido polui nossos sentidos.
No penúltimo dia de 2011 estava em casa com meu companheiro e resolvi comer uma banana. Estava com o Ravi no colo, não resisti e ofereci, ele
com uma sutileza linda foi encostando sua língua, de forma suave,
provando algo novo. Que lindo ver essa cena, e ele estava ali nos
meus braços, provando a vida, um presente de Gaya, que ele adorou,
ficou chupando como se estivesse mamando, colocou as mãos, se
lambuzou todo, nos divertimos muito.
Agradeço muito tudo que tenho
aprendido com o amado Ravi, e essa foi mais uma lição, a forma
delicada e sutil que ele degustou algo novo, o valor que deu para
aquela banana, as sensações que devem ter provocado nele. Ele
pegou, sentiu a textura nas mãos, o cheiro, o gosto. Que explosão
de novidades. Tudo me fez refletir o quanto acabamos ligados no
automático e não no “pão de cada dia”, tantas maravilhas que
colocamos dentro de nós, e fazemos de forma mecânica, sem lucidez.
Comemos conversando, ou vendo televisão, até mesmo lendo, mas raras
vezes comemos apenas comendo, percebendo as sensações, observando a
mente e as memórias que tal momento trás à tona. Sentindo o aroma,
as sensações da língua, a força dos dentes. Alimentar-se pode ser
uma profunda meditação.
Muita PAZ a todos os seres, que todos
sejam felizes!
Vivi 08.01.12